29/03/2016

Os ratos do quarto ao lado- Jefferson Sarmento

Estou superatrasada com esta resenha e quero pedir perdão ao Jefferson pela demora. Esse é o segundo livro do blog em parceria com o autor e queria deixar impressa aqui minha imensa gratidão pela confiança e a oportunidade de conhecer suas obras. A primeira que tive contato, que na verdade é o livro mais recente publicado pelo Jefferson Sarmento, foi Alice em silêncio. E agora "Os ratos do quarto ao lado". Mas, sem mais enrolação, vamos ao livro!

Sinopse:
Remo era uma cidade tranquila até aquela manhã. A descoberta do corpo de um garoto numa velha serralheria, mutilado, exposto como num altar de magia negra, aparentemente violentado, revolve as cinzas de velhas lembranças sepultadas. Alonso Fraga, comandando um pequeno jornal local, passeia por essas lembranças, sendo protagonista de histórias macabras da própria infância que confundem-se de maneira perturbadora com o acontecimentos. Enquanto isso, alimenta uma paixão fantasiosa por sua vizinha Beatriz, cujo casamento parece ruir em cacos, rápida e mortalmente. À medida que novos assassinatos são descobertos, a cidade mergulha numa soturna condição de embriaguez e perplexidade. O criminoso, que antes parecia circundar Remo como um carniceiro covarde, entra em seus limites, circula por suas ruas, invade seus quintais. E pode estar dentro de suas paredes a qualquer instante. De repente, parece não haver mais tempo para que o quebra-cabeças de lembranças e símbolos desarranjados seja resolvido.
O livro, em terceira pessoa, gira em torno de Alonso e Beatriz.  A cada passo que damos, a cada revirar de páginas, mais personagens são introduzidos à trama, mas sentimos uma atenção maior em relação a Alonso, um jornalista da cidade de Remo, e Beatriz, uma professora de História da mesma cidade. E não posso esquecer de André, o novo jornalista admitido no jornal, Correio a Remo, após a demissão do asqueroso Cláudio Madeira. Ele também ganha uma atenção especial e é ele quem acende o pavio da narrativa, quando ler, você entenderá do que estou falando. Confesso que fiquei um pouco receosa com a introdução de tantos personagens, mas a verdade é que cada um deles são necessários para a trama, é como um conector de algum ponto solto.

A narrativa é linear, ou seja, segue uma linha cronológica. É descritiva (característica do gênero romance policial; todo detalhe é importante, acredite em mim), mas isso não a deixa cansativa, pelo contrário, nos deixa ávidos por mais. Esse foi um livro bastante instigante para mim, e isso é muito bom. Não li muitos livros do gênero, de modo que quando li esse, fui ainda mais desafiada por não estar acostumada ao gênero como estou a outros. Não falo isso no sentido de que não precise dar atenção a livros de fantasia ou romance porque já me adaptei ao gênero, eles sempre nos traz algo novo, mas é o tipo que já está automatizado e quando leio um gênero diferente, que não seja os citados, ocorre uma desautomatização, um desvio. E isso é  maravilhoso. 

Mas enfim, gente, Alonso Fraga trabalha no jornal Correio a Remo e se depara com assassinatos misteriosos e, aparentemente, muito bem articulados. Ele tem uma paixão pela vizinha Beatriz que, por sua vez, vive infeliz num casamento infeliz. A única coisa boa é seu filho Lucas, um garotinho esperto e muito amável. 

A história vai se desenrolando à medida que se investiga esses assassinatos brutais de crianças. Um detalhe: o assassino só escolhe meninos e é tão minucioso nos detalhes para que seus crimes sejam iguais, o que vai resultar em algo extremamente aterrorizante e macabro.

Todos esses crimes horríveis mexe com a cidade, mas é quando Lucas é raptado que a bomba realmente explode. Fiquei tão desorientada nessa parte e senti de perto o medo de Beatriz e de Alonso. Mas descubram vocês mesmos o que acontece. ;)

Quando descobrimos os motivos dos assassinatos, nossa, que cara terrível! Se eu escrever mais alguma coisa vou acabar dando spoilers.
Confesso que desconfiei de um montão de gente, mas não desconfiei de quem realmente deveria, não sou boa em investigações, apesar de o narrador dar pistas o tempo todo. Até mesmo através do diário, encontrado por Beatriz no antigo orfanato da cidade, mas mesmo assim não consegui desvendar antes que o narrador revelasse a face do criminoso. Mas isso não me deixou frustrada, eu amo ser confrontada e amo livros que exigem mais de mim. E "os ratos do quarto ao lado" foi um desses. A única coisa que me incomodou um pouco foi a letra pequena, mas quanto às demais coisas, o livro é maravilhoso e o recomendo.


Classificação:

Autor: Jefferson Sarmento
Editora: LivroPronto
Ano:2008
Páginas: 352


Jefferson é autor dos livros Alice em SilêncioVelhos Segredos de Morte e Pecados Sem Perdão e de Os Ratos do Quarto ao Lado.

26/03/2016

Poemas em Prosa- Poliedro- Murilo Mendes

Gente, faz séculos que não posto nada no blog, né? Então, só pra dizer que estou viva e que o blog não morreu, resolvi compartilhar com vocês dois poemas em prosa que gosto muito. Espero que apreciem.
A Luva
A luva é uma sociedade secreta que nos ajuda a esconder a mão.
   
 A luva, ser volúvel, solúvel. Chove na luva. Neva na luva. Descalçar o
sapato-da-mão: a luva. As luvas de Luísa. As luvas da lua. As loas da luva.
  A luva lava a mão. Uma luva lava a outra. Uma mulher lava a outra. A mentira
deslavada, com luva. A verdade lavada, inconsútil. O homem é um ser la-
vável, levável, louvável, luvável.

(Só fazendo um comentário rápido sobre o poema: A primeira frase a gente pode ver como uma redefinição do objeto falado, a luva. Também podemos enxergar como uma metáfora, pois sabemos que os criminosos usam luva para não deixar impressões digitais na cena do crime. Podemos notar também que ele, Murilo Mendes, refaz algumas expressões como a que nós conhecemos como "uma mão lava outra". Além disso, podemos também notar a semelhança de sons em palavras próximas, o que podemos chamar de "assonância", uma figura de linguagem.)


A Pérola
Os dedos da natureza extraem a pérola duma concha bivalve: delicadíssima
operação cesariana. E gostariam de oferecê-la diretamente à mulher; mas 
têm que passar pela manopla do negociante, essa grande potência corrosiva.
A pérola é minúscula sílfide japonesa; pérola, o casulo do silêncio,
uma vírgula luminosa, a perfeição do zero, o eco da pérola.

(Nesse outro poema notamos uma comparação com a extração da pérola de uma ostra à operação de extrair a criança do ventre da mulher. Quando ele diz "sílfide japonesa", temos uma alusão à prática pelos japoneses de extração de pérola e também à delicadeza da mulher japonesa, porque "sílfide" significa "esbelto", "delicado".)



Bem, gente, só vou deixar esses dois poemas, espero que tenham gostado. Ambos são de Murilo Mendes, retirados do livro Poliedro. O que notamos é que ele usa objetos comuns, até banais, como a luva, e os refaz de alguma forma, mas é o tipo de coisa que só notamos quando relemos e relemos. 

08/03/2016

Prêmio Dardos

Oii, gente! Estou muito feliz porque meu blog foi indicado para um prêmio pela Maísa Adreoli, do blog O Pequeno Mundo dos Livros. Desde já, quero agradecer muito a ela pela indicação. Dentre tantos outros blogs bons, o meu também foi indicado e isso me deixa superfeliz. :D

Sobre o prêmio:
 O Prêmio Dardos é um selo virtual criado em 2008 pelo escritor Alberto Zambade, do blog "Leyendas de El Pequeño Dardo El Sentido de las Palabras", e a ideia dele foi selecionar e indicar o selo para quinze blogs que considerou merecedores do prêmio, sendo que estes indicariam outros quinze, e assim sucessivamente. Este prêmio tem como objetivo reconhecer os esforços dos blogueiros, transmitir princípios culturais, literários, éticos, pessoais, etc.



Regras para Indicação dos Blogs:
  • Indicar os blogs que preencham os requisitos acima para receber o prêmio;
  • Exibir a imagem do selo;
  • Mencionar o blog que te indicou e inserir o link dele;
  • Avisar os blogs escolhidos. 

Minhas indicações:

Visitem os blogs acima e vejam suas indicações! Abraço!

04/03/2016

Sorteio de 2 exemplares "Caixa de Pássaros"

Oiii, amigos leitores? Como estão? Espero que bem. Há um tempinho fiz uma pesquisa para um sorteio que queria fazer no meu blog. Os dias se passaram e as pessoas votaram, pelo menos 33, e o resultado é que temos 2 livros ganhadores, os mais votados: "Caixa de Pássaros" e "Garota Exemplar", como mostra a enquete logo abaixo. 
Mas não consegui encontrar o "Garota Exemplar", então comprei 2 exemplares de "Caixa de pássaros".
Bom, agora vou criar as regras para o sorteio. São apenas 2 (não gosto de complicar as coisas, haha). Os livros já estão em mãos. Eu pensei em sortear os dois para apenas um ganhador, mas, como são dois livros iguais, mudei de ideia e, assim, duas pessoas sairão com livro. \o/  Pra participar do sorteio, tem que morar em território nacional, ou seja, no Brasil e seguir o que pede abaixo, no formulário, isto é, Seguir o blog e curtir a página do blog no facebook. Não esqueça de dar as entradas no formulário Rafflecopter giveaway, assim você valida sua participação e na hora de sortear seu nome constará. Ok? Ok. 
O blog não se responsabiliza por extravio nos correios. O resultado do sorteio sairá neste mesmo post em até 5 dias após o término e os livros serão enviados em até 30 dias. Não se preocupe que avisarei aos ganhadores e eles terão até 2 dias para responderem ao e-mail. Se não responderem, estarei realizando o sorteio novamente através do aplicativo Rafflecopter
Ah, não esqueça de deixar o e-mail nos comentários. É isso. Booooaaa sorteeee! 
Abraço!

a Rafflecopter giveaway

02/03/2016

A Cartomante- Machado de Assis

Oi, pessoas! 

Bom, hoje a resenha será de um conto o qual eu gosto muito. Esses dias estava tendo aula de Teoria da Literatura e esse conto foi analisado e eu fiquei impressionada, como sempre fico nas aulas de Literatura, haha.

O conto, A cartomante, que vou resenhar, com base nas análises feitas na sala de aula, é do escritor tão conhecido e amado Machado de Assis. Vamos à resenha!


A Cartomante vai contar a história sobre a bela Rita, de 30 anos de idade, o jovem Camilo, de 26 anos e o sério Vilela, de 29 anos, os quais vivem uma aventura amorosa. Vilela e Camilo se conheciam desde crianças, tinham uma relação de irmãos.

"Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia."

É exatamente com a frase acima que o conto começa, com Rita e Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, discutindo sobre o fato de ela ter ido a uma cartomante para averiguar o por quê dele ter se afastado dela. E, então, ele lhe confessa que têm recebido cartas anônimas de alguém que está sabendo sobre o caso deles.

"—a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo."

A narrativa, em terceira pessoa, começa conflituosa, com um narrador que a princípio não participa da história. O triângulo amoroso que temos vai servir para sustentação da narrativa, é dizer, para o desequilíbrio e o conflito, pois, assim, a história vai render mais.

Machado tem todo um cuidado em descrever os personagens e os lugares a fim de nos passar a sensação de verossimilhança e compõe uma narrativa que ora está no presente, ora no passado para nos contar com detalhes o que realmente aconteceu, é o que os críticos literários vão chamar de flashback.

Em alguns momentos podemos notar que o narrador deixa de ser um mero observador para ser testemunha. E também podemos notar o jogo que o autor faz com o tempo, além de descrever com precisão o estado psicológico dos personagens, o que nos faz nos aproximarmos e sentirmos a história com muito mais profundidade e emoção.

O que começou conflituoso aos poucos vai se abrandando até que o conflito cessa. Camilo, que acreditava que as cartas anônimas eram de Vilela, após ter ido à cartomante para averiguar porque o amigo o chamou depressa, volta a acreditar que tudo está bem e com ele sentimos essa tranquilidade. Mas, ao decorrer de todo o conto, o narrador dá sinais do que pode acontecer, mas só percebemos isso quando lemos mais de uma vez. 

O conto é supercurtinho, se eu escrever mais alguma coisa vou acabar dando spoilers. Para quem ainda não leu, recomendo a leitura.
Abraço!

Classificação:
Autor: Machado de Assis