25/05/2016

Tempo Seco- Clara Arreguy




O livro “Tempo Seco”, da jornalista Clara Arreguy, é um romance de ficção com flashes do cotidiano, intermediado pelas histórias de taxistas, bons homens, gente que vive em Brasília e espera, sempre, por uma nova vida. Política, traição, violência e amizade, num só lugar.



O livro Tempo Seco, que recebi em parceria com a Outubro Edições, é uma coleção de histórias, memórias, sonhos de Miriam, a protagonista. São contos do dia a dia, curtos e que aborda questões da vida cotidiana, questões que são comuns a todas as culturas.

São histórias que não obedecem a uma ordem cronológica dos fatos, são como a captura de uma câmera em diferentes momentos e em diferentes lugares, ainda que Miriam esteja residindo na árida Brasília.

A mineira Mirian, solteira, com um emprego estável, petista assumida, sem filhos e com mais de 40 anos de idade, faz amizade com os taxistas que sempre a levam pra lá e pra cá. Dentre todos eles,  Rodrigues,  João,  Bené, Wilson,  Vavá,  Nelsinho e outros que ela identifica pelo número do táxi, Rodrigues (o Nonato) é o que mais conversa com ela e o que ela mais tem afinidade, talvez por isso sua história ganha mais destaque no livro, até mais do que a de Miriam.

Nonato Rodrigues, também chamado de Natinho, natural de João Pessoa, tinha um irmão gêmeo que morreu e outro irmão mais velho, o Miro, que foi militante. Miro deixou ao irmão o gosto pela política e a coragem de lutar e defender seus ideais.

Estudioso, nascido de pais pobres, e com uma garra de quem já viveu e sofreu as dificuldades da vida, Rodrigues entra na Universidade Federal da Paraíba, em 1978, no curso de Administração de Empresas, mas pouco tempo depois abandona por um emprego no Banco do Brasil, algo bem reconhecido e respeitado na época.

Ele é apaixonado por Dorinha, uma moça com cara de ingênua, doce, mas que no fundo só quer dar o golpe, porque ela gosta mesmo é de curtir a vida, em todos os sentidos, e não quer saber de compromisso sério pra não ficar amarrada a ninguém. Mas como diz bem aquele ditado "o amor é cego" e Nonato mais tarde sofreria por dar crédito a Dorinha e por não querer ver o que estava tão claro como a luz do sol.

"Assim age o coração: vê como real o sonho que tanto deseja." 

Os capítulos do livro são bem curtinhos e quando começamos a ler nos dá uma sensação de que o livro é desmontável, mesmo nos capítulos (a maioria) que é contada a relação de Dorinha e Natinho, porque, como já escrevi anteriormente, as histórias não obedecem uma ordem cronológica dos fatos. O livro trata de diversos temas comuns como amor, traição, política, ambição, dialetos, solidão, melancolia, tristeza, clima, violência, etc. A escrita da Clara é cativante e nos prende. Me senti dentro de um táxi ouvindo alguém me narrar todos os contos que li e quando o livro acaba é como se o taxista me dissesse que é hora de descer, que a corrida acabou.

Em Tempo Seco, narrado em 3ª pessoa, mas há dois capítulos em 1ª pessoa (um traz reflexões de Miriam, que faz indagações a ela mesma e outro, é seu Rodrigues falando da traição de Dorinha, então nesse capítulo o narrador lhe dá voz), não vemos só sequidão climática, eu diria que há uma sequidão interior de Miriam, que deixa de viver sua vida pra dá ênfase a vida de seus colegas, os taxistas. Ela se revela uma personagem forte, bem decidida, mas solitária, cheia de melancolias. Percebemos que ela não se sente parte de Brasília, não se sente pertencente a esta nova realidade na qual se encontra, talvez seja por isso que seus únicos amigos sejam os taxistas, que também vieram de outros lugares pra tentar a vida. 

O tamanho dos capítulos, a cor do livro e, inclusive o tamanho do livro, vai reforçar essa sequidão. Então, se eu fizesse uma análise Sociocrítica, diria que os elementos externos como o clima,  a vida de Miriam, se interiorizam na estrutura do livro, tronando-se, assim, elementos internos, artísticos, participantes da construção da obra.

Sobre o Livro:
O livro  tem folhas amareladas e com detalhes em cada capítulo, como podem ver na imagem abaixo. Além disso, a letra é bem confortável aos olhos.
Imagem do blog "Sure, we have a blog".

Espero que gostem. Boa leitura! Ah, e não esqueçam de deixar nos comentários o que acharam da resenha. ^___^

Avaliação:
Atora: Clara Arreguy
Editora: Geração Editorial
Ano: 2009
Páginas: 128


Quem se interessar em adquirir o livro, é só entrar AQUI. Ou entre em contato pelo e-mail da editora Outubro Edições:  outubroedicoes@gmail.com ou pelo Facebook. ;)

12/05/2016

Haroldo de Campos

(Haroldo de Campos. Imagem retirada da internet)

de sol a sol
soldado
de sal a sal
salgado
de sova a sova
sovado
de suco a suco
sugado
de sono a sono
sonado

sangrado
de sangue a sangue


(Haroldo de Campos. In: BOSI, Alfredo.
História concisa da literatura brasileira.
São Paulo: Cultrix, 1999. p. 479.)



Comentário: Esse é um poema concretista e vemos uma quebra do verso tradicional, e isso era realmente o objetivo de seus mentores. Vemos, então, a falta de pontuação, o jogo com as palavras, todas começando com a letra "s", o que resulta num jogo sonoro. É o tipo de poesia, a poesia vanguardista da qual faz parte o poema acima, que traz inovação não só ao campo verbal, mas ao visual também. Em outa postagem do blog eu falei um pouco mais sobre isso e mostrei outros poemas, se quiserem ver, é só clicar AQUI

Desfrutem! ^^

05/05/2016

As pombas- Raimundo Correia

Um amigo enviou esse poema pra mim e achei lindo, por isso resolvi compartilhar com vocês. Espero que gostem. 
Foto do blog Poemas e Sonetos

As pombas

Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada…

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada…

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais…



O poeta nos pinta uma paisagem e faz uma comparação das pombas com os sonhos, mas ao contrário delas, eles não voltam mais. Então se trata de um poema que expressa a perda das ilusões e quando ele diz "No azul da adolescência as asas soltam,/Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,/E eles aos corações não voltam mais…", podemos observar que à medida que vamos crescendo, vamos deixando nossas ilusões, nossos sonhos se perderem. Enquanto somos jovens eles abrem suas asas, mas, à medida que crescemos, eles voam, se vão, até porque nós estamos sonhando constantemente, não é verdade? Nossos sonhos de agora dificilmente são/serão os mesmos de tempos atrás, isso porque vamos tendo prioridades diferentes. Pra mim, o voo das pombas seria justamente o passar do tempo e o voo dos sonhos, a perda da juventude, porque, assim como eles, ela não volta. 
Bom, é uma interpretação minha, cada pessoa poderá enxergar o poema de maneira diferente. ;)