De maneira que realidade e fantasia se mesclam e dialogam, conto-lhe esta história sobre um homem real que deu asas à sua imaginação. É quebrada a linha invisível que separa estes dois âmbitos, então, meu caro, talvez em alguns momentos você não distinga verdade de ficção, velejará nestes dois mundos sem sequer perceber e quando eu terminar de lhe narrar este fato, estará boquiaberto com as surpresas que tenho pra revelar. Tudo começa por causa de um baú. Puxe uma cadeira e vamos descobrir o que guarda essa caixa de memória.
Emília e Zezinho, depois de brincarem e se aventurarem na floresta, chegam imundos e sua avó Anastácia não gosta nada do estado lamentável que chegaram os dois. A menina está suja desde as meias listradas até os fios de cabelo amarelo. Zezinho nem se fala!
O menino, nosso protagonista, um garoto curioso (e que bom, pois é através da curiosidade que nascem as histórias) encontra, certo dia, a porta que tanto lhe era proibida, aberta. Com medo de sua avó Anastácia ralhar-lhe por aquela desobediência, logo entra no aposento e trata de fechar a porta. Acende um lampião e começa a vasculhar o cômodo que cheira a mofo.
Há uma tímida luz filtrada por um buraquinho no teto. Os pingos de poeira parecem dançar na luminosidade e ela aponta para um baú. E com sede de aventura, o menino abre aquela caixa velha e empoeirada, mal sabendo que está abrindo as portas de um mundo desconhecido. Encontra tantas coisas do seu tio-avô Sinésio Monteiro, considerado um herói da Guerra do Paraguai e condecorado pelo Duque de Caxias. Encontra, dentre tantas recordações do tio louco, um cachimbo mágico entalhado com detalhes de pica-paus amarelos. Abaixo do cachimbo havia um diário do tio e movido pela curiosidade o menino começa a lê-lo.
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Sinésio, um homem sofrido da Guerra, já havia presenciado muita coisa, mas o que aconteceu com o cabo Aurélio realmente lhe assustava. Num ímpeto de valentia e burrice, o soldado Alemão, atrai os monstros que fizeram aquilo com o cabo. Logo, uma chacina ocorre e, espantado de horror, o sábio soldado indígena, Cuca, os nomeia como Os Senhores do Vento. Depois de acabado o serviço, o que parece ser o chefe deles, decide que Sinésio deve viver para que conte a todos o que acontecera neste dia terrível e entrega a ele um objeto entalhado com pica-paus amarelos como prova de que aquilo tudo não fora um sonho.
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Depois de ler o diário, Zezinho teve pesadelos durante muito tempo. E como nossa memória é frágil e nossa imaginação, sensível, esquecemos e interpretamos as coisas de maneira diferente, por isso, aqueles Senhores do Vento, hoje são conhecidos por outro nome e depois de grande, graduado em Direito, Zezinho volta ao sítio para contar a sua versão dos fatos.
Classificação:
🕮🕮🕮🕮🕮❤
Autor: Gabriel Réquiem
Editora: Draco
Ano: 2014
Páginas: 22