Gente, faz séculos que não posto nada no blog, né? Então, só pra dizer que estou viva e que o blog não morreu, resolvi compartilhar com vocês dois poemas em prosa que gosto muito. Espero que apreciem.
A luva é uma sociedade secreta que nos ajuda a esconder a mão.
A luva, ser volúvel, solúvel. Chove na luva. Neva na luva. Descalçar o
sapato-da-mão: a luva. As luvas de Luísa. As luvas da lua. As loas da luva.
A luva lava a mão. Uma luva lava a outra. Uma mulher lava a outra. A mentira
deslavada, com luva. A verdade lavada, inconsútil. O homem é um ser la-
vável, levável, louvável, luvável.
(Só fazendo um comentário rápido sobre o poema: A primeira frase a gente pode ver como uma redefinição do objeto falado, a luva. Também podemos enxergar como uma metáfora, pois sabemos que os criminosos usam luva para não deixar impressões digitais na cena do crime. Podemos notar também que ele, Murilo Mendes, refaz algumas expressões como a que nós conhecemos como "uma mão lava outra". Além disso, podemos também notar a semelhança de sons em palavras próximas, o que podemos chamar de "assonância", uma figura de linguagem.)
A Pérola
Os dedos da natureza extraem a pérola duma concha bivalve: delicadíssima
operação cesariana. E gostariam de oferecê-la diretamente à mulher; mas
têm que passar pela manopla do negociante, essa grande potência corrosiva.
A pérola é minúscula sílfide japonesa; pérola, o casulo do silêncio,
uma vírgula luminosa, a perfeição do zero, o eco da pérola.
(Nesse outro poema notamos uma comparação com a extração da pérola de uma ostra à operação de extrair a criança do ventre da mulher. Quando ele diz "sílfide japonesa", temos uma alusão à prática pelos japoneses de extração de pérola e também à delicadeza da mulher japonesa, porque "sílfide" significa "esbelto", "delicado".)
Bem, gente, só vou deixar esses dois poemas, espero que tenham gostado. Ambos são de Murilo Mendes, retirados do livro Poliedro. O que notamos é que ele usa objetos comuns, até banais, como a luva, e os refaz de alguma forma, mas é o tipo de coisa que só notamos quando relemos e relemos.
Gosto de poesias que temos que ler mais de uma vez para entender o seu real significado, ou quando demos um significado a ela. Adorei os poemas, moça!
ResponderExcluirAbraços.
cantinhodaescritablog.blogspot.com.br
Verdade, Lídia.
ExcluirObrigada.
Bjão.
Muy bellos los textos
ResponderExcluirAsí es.
ExcluirGracias.
Abrazo.