Eram 5 horas da manhã quando o galo cantarolou sua melodia. Já havia uns minutos que estava me revirando na cama, com preguiça de colocar os pés no frio chão de barro batido. Lá longe no campo algum cachorro latia. O sol já não era tão tímido a essa hora, já havia saído de debaixo de seu cobertor negro estrelado.
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Créditos: Juan Díaz |
Respirei o ar agradável da manhã e peguei um balde com água para retirar de vez a preguiça do corpo recém desperto. Minha avó já estava de pé a alguns minutos e voltava de algum lugar com Piaba, nossa cachorra, ao seu encalço. O fogão de barro, com seu hálito esfumaçado, pintava de negro o bule de café que nele estava.
Após o desjejum, sob recomendações da minha mãe que acabara de levantar, me vesti rapidamente e tomei o mesmo caminho surrado e ladeado de canas que me levava à escola. Mas, já longe de casa, dentro do cercado, as amarelas araçás me chamaram a atenção. Deixando a mochila e o medo em um canto, encostados, passei por entre as brechas do arame farpado do cercado para saciar meu desejo infantil. Devagarinho, como um ladrão na calada da noite, cheguei ao pé de araçá e comecei minha colheita, mas prestando mais atenção aos bois que pastavam ali a alguns metros. Depois da missão cumprida, peguei minha mochila de volta, mas não o medo, e segui meu rumo enquanto saboreava minha recente conquista, mesmo estando de barriga cheia.
Já devia ser tarde, mas não existem horários para as crianças. Perto da escola, olhei pro alto apreciando as nuvens com formas engraçadas. Comecei a ver nelas animais dos mais diversos enquanto o céu fazia seu percurso, como se não tivesse pressa e não precisasse chegar a lugar algum, e me senti da mesma maneira. Nesse momento, pensei que devia ser por causa dessa liberdade e descompromisso que as pessoas da cidade da minha tia colocavam fios, que mais pareciam grades, no ar para não verem o céu sendo livre e terem vontade de SER.