O corvo, escrito em 1845, é um poema do escritor estadunidense Edgar Allan Poe que traz a temática do romantismo, mas com o cenário sombrio que tanto caracteriza a narrativa do autor. A versão que analisei é a traduzida por Fernando Pessoa, que foi a que gostei mais.
Há no poema uma repetição de palavras e estruturas, mas Poe não se preocupa com isso; elas estão ali para um determinado fim e provocam uma musicalidade triste. Através do poema, o eu lírico canta seus "ais" de tristeza pela perda da amada.
Se pinta um ambiente escuro e denso, cheio de mistérios pelos tomos antigos que lê o protagonista.
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais [...]
Esse "vagos" refere-se a algo que não tem autoria, que é profano. São desenhadas pelo fogo "sombras desiguais", como espectros a vigiar. A paz é descrita como "profunda e maldita", até porque a tranquilidade é um purgatório para o eu lírico que sofre terríveis tribulações pela morte de sua amada. E a dor e o sofrimento dele é alongada pela "noite infinita".
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Depois que ele pronuncia "o nome dela", o nome de mulher que ama, aparece o corvo, que representa a morte que insiste e insiste, sendo descrito como algo de tempos ancestrais, claro porque a morte está desde que existiu vida na Terra.
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
Atena é conhecida na mitologia grega como a deusa da arte da guerra, imbatível nas batalhas, e é bem revelador o fato de o corvo pousar bem ali. A morte é imbatível porque faz parte do ciclo da vida, é uma fase pela qual todo ser humano passa e passará, não há como fugir. Ela chega com ar solene e lento e sem cumprimentar.
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".
No começo que ele vê a ave, diz que ela é de bons tempos ancestrais, mas depois, talvez porque percebeu o significado do corvo, afirma que é de maus tempos ancestrais, pois ela cravava os olhos fatais em sua alma.
"A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!
"Disse o corvo, "Nunca mais".
E em um momento de agonia, de profundo pesar, o eu lírico implora ao corvo que lhe dê a esperança de que sua alma será alentada no mais além da vida e que voltará a ver sua amada algum dia e a resposta do corvo é "Nunca mais". Há aqui uma negação da transcendência, uma não crença em vida após a morte, o que acaba por desalentar e aumentar o sofrimento do eu poético, que tem de suportar a dolorosa presença do corvo que permanece solenemente pousado nos seus umbrais, demostrando que sua batalha é perdida.
E a minhalma dessa sombra que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Esse é o destino do eu lírico romântico, a presença constante da dor, nesse caso causada pela morte da amada, e o corvo vai representar isso, essa dor para a qual não tem remédio nem mesmo na própria morte, é um sofrimento contínuo.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirResenha maravilhosa, parabéns!! Eu tenho certo interesse nesse livro, mas sempre boto outro na frente kkk É minha primeira vez aqui e já adorei seu blog. Estou te seguindo.
Beijos,
https://teattimee.blogspot.com.br/
Dá uma chance pra ele. É um poema só, você vai ler rapidinho.
ExcluirAwwn, linda, muito obrigada pelos elogios. Fico muito feliz em lê-los. Seja muito bem-vinda aqui!
Beijão.
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirEdgar Allan Poe é um verdadeiro mestre nas artes da literatura. Gosto muito dos contos e dos livros que ele tem e esse me chamou muita atenção, espero lê-lo em breve.
Aproveitei pra seguir aqui e acompanhar as novidades futuras.
beijinhos.
https://leiturize-se.blogspot.com.br/
Olá, estou muito bem, e você?
ExcluirEu sempre ouvia falar dele, mas essa foi minha primeira leitura e agora quero outras, principalmente porque ele escreve em um dos gêneros que virou um dos meus favoritos, que é o terror.
Seja bem-vinda! Esse espaço é nosso!
Beijos!
Olááá!
ResponderExcluirOh meu Edgar!
sério, eu amo as obras desse homem, me chame de mórbida, emo ou o que quiser mas os livros do Poe são impecáveis.
adoro essa e muitas obras dele, acho que ter um Poe na estante é de alta importância.
abraço!
Squad Of Readers
Hahaha, então somos duas mórbidas, porque também tô apaixonada por ele.
ExcluirBem-vinda.
Um abração!
Olá Mirelle, vim retribuir a visita e já amei o blog!! Como não amar se eu chego aqui e dou de cara com ele, o mestre Poe...
ResponderExcluirQue bom que gostou, e que você leia muito e muito mais...
Já tô seguindo aqui linda!! Beijos!!
www.lendo1bomlivro.com.br
Instagram :) @lendo1bomlivro
Obrigada, Day! Fico feliz em ler suas palavras.
ExcluirBem-vinda aqui!
Um beijão.
Oi Mirelle, tudo bem?
ResponderExcluirO livro parece ser bem interessante e consegue prender o leitor no ponto certo. Saber que o livro transmite a dor no ponto certo me dá mais vontade de lê-lo.
PS: seu blog é lindo, já estou seguindo!
Beijos,
Gnoma Leitora
Olá, tudo bem, e você?
ExcluirSim, o poema é bem interessante.
Obrigada e bem-vinda aqui!
Beijão.
Oi!! Conheço o autor, mas ainda não tive a chance de ler, espero um dia. Só não sei se irei gostar hahaha <3
ResponderExcluirObrigada pela visita ao meu blog, já estou seguindo o seu!! Bjo
Click Literário
Se você gostar de terror, vai gostar dele sim!
ExcluirEu que te agradeço por seguir o meu!
Beijão.
Tá aí um livro que eu preciso ler. =) Sabe, eu vi um filme sobre Allan Poe (acho que o nome era 'O corvo' também) e desde então fiquei com vontade de ler as obras dele. Esse ar de algo misterioso e sombrio chamou a minha atenção.
ResponderExcluirGostei da análise que você fez na postagem. ^^
Ah! Amei o nome do seu blog, Mirelle. =D
Beijinhos ♥
Contadora de Histórias
Leia mesmo, não se arrependerá.
ExcluirObrigada, linda!
Beijão.